28 de abril de 2024

Mãe internada à força pela filha relata abusos

Maria Aparecida Paiva, de 65 anos, contou, em depoimento, que havia apenas uma cama no quarto e que uma mulher retirou dela os seus pertences e que a cada atendimento era obrigada a ingerir remédios. Filha e genro estão presos pelo crime.


Por Folhapress Publicado 26/02/2023
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Mãe internada à força pela filha relata abusos
A idosa Maria Aparecida de Paiva, de 65 anos, foi sequestrada e internada à força em duas clínicas psiquiátricas pela filha Patrícia de Paiva Reis, no Rio de Janeiro – Foto: Reprodução/TV Globo

Maria Aparecida de Paiva, de 65 anos, sequestrada e internada à força pela filha em duas clínicas psiquiátricas no Rio de Janeiro, relatou os detalhes do que viveu à polícia. Ela ficou mais de 15 dias internada.


A filha, Patrícia de Paiva Reis, e o genro da mulher tiveram a prisão em flagrante convertida em preventiva (por tempo indeterminado) no sábado (25).

INVESTIGAÇÕES


De acordo com a polícia, as investigações apontaram que a vítima não tinha doenças psiquiátricas, mas foi mantida na clínica para ser coagida a retirar uma denúncia que fez sobre maus-tratos sofridos pelo dois netos, de 2 e 9 anos, na DCAV (Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima).


Primeiramente, a mulher foi sequestrada na zona sul da capital no dia 6 de fevereiro. A abordagem ocorreu quando ela saía de uma agência bancária e foi rendida por dois homens, que a colocaram em uma ambulância. Ela foi à Clínica Vista Alegre, em Corrêas, na região serrana do estado.


O QUE ACONTECEU NO LOCAL?


No local, a vítima diz que recebeu uma ficha e foi para uma sala. No local, uma mulher tirou sua bolsa e celular, e mandou a idosa se despir e se agachar várias vezes.


Depois, ela foi levada para um quarto, sem janela e sem contato com outras pessoas, com somente uma cama, um vaso sanitário e uma pia.


Ela ficou três dias nesse espaço com “intenso calor”, recebendo duas refeições por dia, sem acesso fácil à água. Em seguida, foi transferida para um quarto coletivo, onde tinha café da manhã e maior acesso à água.


Maria nega que tenha falado com qualquer médico no espaço e diz que o atendimento só começou após seis dias de internação. Ela era obrigada a ingerir medicações.


A vítima dizia que precisava receber alta, mas pessoas da clínica respondiam que ela precisava falar com a filha, que foi visitá-la no carnaval com o genro.


Na ocasião, Patrícia teria dito que precisava “desqualificar” o depoimento da mãe à polícia sobre o caso de maus-tratos, e ainda ameaçava colocar a idosa em uma clínica psiquiátrica pública.


TRANSFERÊNCIA PARA NOVA CLÍNICA


Depois de alguns dias, Patrícia e Raphael colocaram a idosa à força em outra ambulância e a internaram na Clínica Revitalis, na mesma região.


No espaço, a idosa foi para um quarto coletivo.


Apenas no dia 22, a mulher foi atendida por uma médica e pôde explicar a situação.


No dia 23, a Polícia Civil e um administrador da clínica avisaram que ela seria liberada.


De acordo com um médico psiquiatra da clínica, Maria deu entrada no local no dia 17, mas ele só foi informado da chegada dela no dia 22, durante reunião de equipe.


De acordo com o homem, a médica que fez a avaliação inicial de Maria teria colocado na ficha: “Paciente com quadro depressivo grave e recorrente, interrompeu o tratamento em agosto de 2022, por conta própria, evoluindo com agravamento do quadro depressivo e posteriormente com quadro de delírio persecutório.”


“No último mês, a paciente apresenta episódios de agressividade e isolamento social. Paciente acredita que seus familiares desejam atentar contra sua vida.”


Em atendimento no dia 22, outra médica designada para o caso apontou que Maria, no entanto, “não possuía critério para permanecer internada de maneira involuntária”.


De acordo com a TV Globo, a polícia fechou as duas clínicas.


O QUE DIZ UMA DAS CLÍNICAS


Em nota, a Clínica Revitalis afirmou que a idosa foi transferida de outra clínica psiquiátrica para o local e disse que Patrícia solicitou a internação da mulher afirmando que ela tinha histórico depressivo e de confusão. A clínica, entretanto, nega que a paciente tenha oferecido resistência ou se recusado a permanecer em tratamento.


“Após avaliação médica e entrevista com familiar foi identificada a necessidade de observação para conclusão diagnóstica mais precisa. Em 5 dias na clínica, com abordagem multidisciplinar da equipe, foi constatado que a paciente não mais apresentava indicação de internação”, afirma o posicionamento.


A reportagem procurou a Clínica Vista Alegre, bem como a defesa de Patrícia e Raphael, e aguarda o retorno.