26 de abril de 2024

Vitamina D e Covid-19: existe mesmo relação?

“Reposição de vitamina D não é isenta de riscos”, alerta oncologista


Por Redacao 019 Agora Publicado 08/04/2020
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Imagem de Silviarita por Pixabay

Em meio à pandemia de COVID-19, uma onda de notícias tem saído na mídia sobre a relação entre vitamina D e coronavírus depois que pesquisadores da Universidade de Turim, na Itália, publicaram um documento (não artigo científico, como o próprio autor reforça) no qual descrevem que identificaram que muitos pacientes com COVID19 tinham baixos níveis de vitamina D.

A partir de uma compilação de evidências relacionadas ao assunto, eles sugerem que a vitamina D, atuando com efeito imunológico, poderia proteger contra o vírus. Sendo assim, deram a orientação de que pacientes com COVID19 – e mesmo aqueles que ainda não tenham contraído a doença – tomem vitamina D em doses altas para se protegerem.  No entanto, o oncologista Rafael Luís, do Grupo SOnHe – Sasse Oncologia e Hematologia, é categórico ao afirmar que é preciso muito cuidado, pois como toda medicação, a reposição de vitamina D não é isenta de riscos. “É necessário ter cautela com as informações de hoje em dia.

A reposição de vitamina D sem prescrição leva ao aumento do cálcio no sangue e cálculos renais são algumas das consequências dessa reposição sem critério. São situações que podem prejudicar os pacientes, podendo ser, inclusive, fatais”, afirma o médico.

Segundo o oncologista, esse documento publicado na mídia descreve que os cientistas deram vitamina D em altas doses para pacientes com COVID19 e que isso teria reduzido o tempo de internação, mas não mortalidade.  “É uma descrição totalmente informal, sem detalhamento do método científico utilizado. O fato de haver muitos pacientes com COVID19 e vitamina D baixa não denota relação de causa-efeito. Os idosos na Itália, no inverno geralmente têm níveis de vitamina D mais baixos, principalmente pela baixa exposição solar. Além disso, o documento junta evidências diversas de estudos variados sobre potenciais benefícios da vitamina D para a população geral. Alguns pré-clínicos, ou seja, feitos em laboratório, não em humanos, aventam a hipótese de que a substância aumentaria a capacidade imunológica das células; outros, também pré-clínicos, sugerindo que a vitamina D reduziria a inflamação no pulmão de ratos; ainda outros, de dados retrospectivos e com poucos pacientes, relatando pequenas reduções da chance de contrair doenças virais respiratórias”, explica Dr. Rafael.

De acordo com o médico, todos os estudos apresentados têm níveis de evidência muito limitados e que são apenas geradores de hipótese e devem, sim, suscitar maiores investigações em pesquisas mais robustas. “O que se sabe atualmente é que a reposição de vitamina D é necessária, sim, para pacientes específicos, aqueles que têm falta de vitamina D. E que a coleta de vitamina D deve ser feita após avaliação médica de um paciente com risco para tal. Não só isso, a reposição, até o momento, só demonstrou apenas redução de fraturas ósseas nesses pacientes. Inclusive, num estudo bem desenhado de uma das maiores revistas científicas (New England Journal of Medicine), a vitamina D não preveniu câncer nem doenças cardiovasculares”, afirma o especialista.

Dr. Rafael assegura que com base na ciência, não há evidências que suportem o uso da vitamina D para prevenção ou tratamento do COVID19. “A vitamina D é útil quando bem indicada para pacientes com deficiência e deve ter sua ingestão orientada por um médico capacitado. E a melhor fórmula para ficarmos bem nessa situação é tomar sol diariamente por aproximadamente 30 minutos com em horários de pouca radiação UV (antes das 10 e depois das 16h), comer bem, incluindo alimentos com vitamina D (gema de ovo, peixes como salmão, atum, sardinha, queijos, cogumelos), praticar exercícios, dormir bem e beber bastantes líquidos. Nessa quarentena, com a exposição solar mais limitada, a dica é utilizar as áreas iluminadas da casa, como varandas e janelas”, indica o especialista.  

Rafael Luís é mestre em oncologia pela Unicamp. Tem graduação e residência em Clínica Médica e Oncologia clínica também pela Unicamp. Realizou Fellowship no MD Anderson Cancer Center Madrid. É membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e da Sociedade Europeia de Oncologia Clínica (ESMO). Rafael faz parte do corpo clínico de oncologistas do Grupo SOnHe – Sasse Oncologia e Hematologia e atua no Instituto Radium de Campinas, no Hospital Santa Tereza, Hospital Madre Theodora e na Santa Casa de Valinhos.