09 de maio de 2024

Pescador é a 6ª vítima de tempestade de poeira no interior de São Paulo

Valdir Greter, 68, pescava com um amigo em um barco quando ambos se viram em meio ao vendaval. Ele foi encontrado quatro dias após o temporal


Por Folhapress Publicado 06/10/2021
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Valdir Grreter
Valdir Greter, 68, pescava com um amigo em um barco quando ambos se viram em meio ao vendaval – Foto: Reprodução/Redes Sociais

Subiu para seis o número de vítimas fatais da tempestade de poeira com ventos de até 103 km/h que atingiu cidades do oeste paulista na última sexta-feira (1º). Na manhã desta terça (5), foi confirmada a morte de um pescador de Presidente Epitácio (SP).


Dono de uma pousada no Campinal, distrito da cidade localizada às margens do rio Paraná, Valdir Greter, 68, pescava com um amigo em um barco quando ambos se viram em meio ao vendaval. Eles tentaram abrigo próximo a uma plataforma de pesca no meio do rio, mas acabaram à deriva depois que a embarcação virou.


O colega de Valdir foi resgatado com vida no sábado (2), usando um colete salva-vidas. Já o corpo do empresário só foi encontrado quatro dias após o temporal, a 8 km do local do acidente, próximo à margem sul-mato-grossense do rio, por pescadores que auxiliavam o Corpo de Bombeiros e a Marinha nas buscas.


Valdir também vestia um colete salva-vidas. No entanto, uma bolsa que se prendeu ao aparato de proteção dele acabou causando o afogamento do pescador, segundo os bombeiros. Além dele, ao menos outras cinco pessoas morreram em decorrência da tempestade.


O quinto óbito foi confirmado na noite de domingo (3), em Araçatuba (a 520 km de SP). Trata-se de um construtor que sofreu um traumatismo craniano ao ser atingido por uma árvore que caiu durante o temporal enquanto transitava de moto. Ele foi hospitalizado, mas não resistiu.


Em Tupã (507 km de SP), já havia sido registrada a morte de um trabalhador da construção civil atingido por uma parede que desabou com os fortes ventos da tempestade. Já em Santo Antônio do Aracanguá (557 km de SP), a ventania alastrou um incêndio que matou três pessoas.


A tempestade de poeira causou estragos ainda sentidos pela região, como quedas de árvores, destelhamentos de imóveis e rompimentos de fiações.


A Prefeitura de Adamantina (a 573 km de SP), sob gestão Márcio Candim, também decidiu decretar situação de emergência por 180 dias, nesta terça, o que, entre outras medidas, permite ao município dispensar licitações nos gastos em resposta ao fenômeno climático.


Antes, o prefeito de Presidente Prudente (a 556 km de SP), Ed Thomas (PSB), já havia assinado decreto parecido em sua cidade, na segunda (4). No mesmo dia, ele suspendeu as aulas presenciais na rede municipal para que pudessem ser vistoriadas as 65 escolas sob sua gestão.


A prefeita de Osvaldo Cruz (a 552 km de SP), Vera Morena (PP), também decretou situação de emergência em seu município, que levanta recursos para auxiliar cerca de 80 famílias que tiveram suas casas danificadas. A cidade ainda interrompeu as aulas e só vai retomá-las nesta quinta (7).


A 21 km dali, a cidade de Lucélia (a 567 km de SP), sob gestão Tati Guilhermino (PV), também decretou suspensão das aulas presenciais na rede municipal até esta quarta (6), para que possam ser feitas a manutenção e a limpeza das escolas atingidas pelo temporal.


Em Prudente, um dos municípios mais afetados pela tempestade de poeira, o aeroporto local teve que adaptar um espaço para a saída de passageiros após a sala de desembarque, com danos na estrutura e vidros quebrados, ter sido interditada pela Defesa Civil.


A prefeitura prudentina ainda registrou danos em 25 prédios públicos e precisou interromper a vacinação contra a Covid-19 no sábado devido à falta de energia em várias unidades de saúde. Os problemas na rede elétrica se espalharam por várias cidades da região devido ao temporal.


A Energisa Sul-Sudeste, que atende 24 cidades no oeste paulista, disse, em nota à Folha na segunda, ter atendido mais de 3.000 ocorrências relacionadas ao temporal nas últimas 72 horas, que afetaram cerca de 50 mil clientes, no interior de São Paulo e em outros cinco estados. Ainda na segunda, a concessionária mantinha 30 equipes em ação em Prudente para atender casos descentralizados.


Araçatuba também seguiu com problemas de energia nos dias seguintes à tempestade. A CPFL Paulista, que opera ali e em municípios vizinhos, disse, no sábado, ter tido avanço significativo nos reparos, mas que ainda mantinha equipes totalmente mobilizadas.


A Prefeitura de Araçatuba, sob gestão Dilador Borges (PSDB), estimou prazo de ao menos dez dias, contados a partir de sábado, para encerrar a limpeza das ruas, tomadas de galhos, destroços e sujeira.


Também no sábado, alguns moradores de Dracena (a 628 km de SP), onde atua a Neoenergia Elektro, só tiveram o serviço retomado à noite -a concessionária afirmou na segunda que ainda mantinha equipes em ocorrências pontuais, principalmente na zona rural, mas que 95% de seus clientes afetados já estavam com fornecimento reestabelecido.
Coordenador da estação meteorológica da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), localizada em Presidente Prudente, o professor Alexandrius Barbosa afirmou que a ventania se deu após uma frente fria vinda do sul ter encontrado uma massa de ar quente na região, o que gerou instabilidade.


Os ventos fortes suspenderam e carregaram a poeira do solo na região, que vem de um período de baixa umidade e estiagem. Segundo o Monitor de Secas, da ANA (Agência Nacional de Águas), com dados de agosto, o noroeste de São Paulo vive seca excepcional, a mais intensa em sua classificação.


O monitoramento ainda aponta seca extrema em parte do oeste paulista e do leste de Mato Grosso do Sul, faixa que faz divisa com São Paulo e também foi afetada pela tempestade de poeira, caso de Três Lagoas (MS). Na sexta, ainda houve relatos de temporal parecido em Goiás e no Maranhão.


Além da seca, contribuiu para a ocorrência da nuvem de poeira o fato de o solo estar exposto, sem cobertura vegetal nativa ou lavoura -caso de áreas dedicadas ao cultivo de cana-de-açúcar, comuns no interior paulista, que passam por queimadas em seu processo de manejo.


O fenômeno visto no interior de São Paulo, que afetou as regiões de Franca e Ribeirão Preto na semana anterior, é também conhecido como haboob. A parede de poeira que se ergue pode ter milhares de metros de altura e até 160 km de largura. Ele é mais comum em regiões de seca e pode ser influenciado por ações humanas, desertificação, degradação e pelas mudanças climáticas.