14 de maio de 2025

Conclave: História, segredos e o futuro da eleição do Papa

Entenda como o Conclave moldou séculos de liderança católica, conheça os bastidores da escolha do Papa, a presença brasileira e as tendências para a próxima sucessão papal.


Por Redacao 019 Agora Publicado 07/05/2025
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Conclave: História, segredos e o futuro da eleição do Papa
Entenda como o Conclave moldou séculos de liderança católica, conheça os bastidores da escolha do Papa, a presença brasileira e as tendências para a próxima sucessão papal.

A eleição do Papa é um rito milenar que mobiliza fiéis, lideranças políticas e curiosos ao redor do mundo. O Conclave, responsável por este momento único, é cercado de tradições, simbolismos e até certo suspense. No contexto atual da Igreja Católica, com discussões sobre renovação, representatividade e desafios contemporâneos, os olhos se voltam para o futuro Conclave — que pode acontecer já em 2025.

Mergulhe nos bastidores, conheça personagens brasileiros marcantes, fatos raros e curiosidades impressionantes. Saiba o que pode estar em jogo na próxima eleição do Papa, com informações históricas e análises de especialistas.

O que é o Conclave: Origem, Rituais e Principais Etapas

O termo conclave vem do latim cum clave (“com chave”), expressão bastante literal, já que significa que os cardeais ficam literalmente trancados, sob chave, até que uma decisão seja tomada. Essa prática teve início no século XIII. Segundo historiadores, a demora — quase três anos — na eleição do Papa Gregório X, entre 1268 e 1271, irritou tanto as autoridades civis de Viterbo, na Itália, que elas decidiram confinar os cardeais, privando-os até de refeições completas, para forçar um acordo.

Desde então, o isolamento tornou-se obrigatório, visando barrar pressões externas e preservar a serenidade espiritual da escolha. Atualmente, a eleição ocorre na Capela Sistina, no coração do Vaticano, um dos espaços mais sagrados para os católicos e reconhecido mundialmente por seu valor artístico e histórico — os afrescos de Michelangelo testemunham cada momento deste processo.

De acordo com a Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, promulgada por João Paulo II em 1996 e ainda em vigor, apenas cardeais com menos de 80 anos podem votar. Em geral, participam cerca de 120 cardeais eleitores. O processo é meticuloso: isolados de todo contato externo, realizam até quatro votações diárias, escrevendo o nome escolhido à mão em cédulas sigilosas. Para a eleição ser válida, o candidato precisa atingir dois terços dos votos presentes.

Após cada votação, as cédulas são queimadas em uma estufa especial. Produtos químicos garantem a cor da fumaça: preta se ninguém foi eleito, branca quando o novo Papa é escolhido. A cena da fumaça é um dos momentos mais aguardados na Praça São Pedro e ao redor do globo.

“O Conclave é um evento que resume a tradição da Igreja, sua força de renovação e sua capacidade de surpreender o mundo”, destaca o jornalista e vaticanista italiano Marco Politi, em entrevista à revista La Repubblica.

Fatos e curiosidades: O que a história revela sobre Conclaves

O caminho para a eleição do Papa é repleto de episódios marcantes e até insólitos:

  1. O Veto dos Reis
    Até o início do século XX, monarcas católicos de países como Espanha, França e Áustria podiam vetar candidaturas indesejadas. Este privilégio, chamado jus exclusivae, foi abolido pelo Papa Pio X em 1904.
  2. Conclave a Céu Aberto
    Em 1268, durante a eleição do Papa Gregório X, para pressionar os cardeais, as autoridades tiraram o telhado do local onde estavam reunidos. A escolha demorou nada menos que 33 meses.
  3. Primeiros Papas Não-Europeus
    Desde Gregório III (sírio, eleito em 731) até João Paulo II (polonês, eleito em 1978), a tradição era de Papas europeus — em especial italianos. A eleição de Karol Wojtyla, seguido por Bento XVI (alemão) e, depois, Francisco (argentino), indicou a ampliação global da Igreja.
  4. O Conclave Mais Curto e o Mais Longo
    Em 1503, Papa Júlio II foi eleito após 10 horas de conclave — o mais breve registrado. Já o de 1268–1271, como citado, foi o mais longo, por quase 1.000 dias.
  5. Renúncias e Surpresas
    Apenas três papas renunciaram de forma documentada: Celestino V (1294), Gregório XII (1415) e Bento XVI (2013), este último após quase 600 anos.

O papel do Brasil nos Conclaves: crescente influência

O Brasil, país com o maior número de católicos no mundo, sempre teve representação ativa nos conclaves modernos. O protagonismo ainda não rendeu um pontífice nacional, mas gera expectativas.

  • Dom Joaquim Arcoverde foi o primeiro cardeal da América Latina, nomeado em 1905.
  • Dom Paulo Evaristo Arns (1921–2016), cardeal-arcebispo de São Paulo, ganhou reconhecimento internacional por sua luta em defesa dos direitos humanos.
  • Dom Odilo Pedro Scherer, atual arcebispo de São Paulo, figurou em listas de favoritos tanto na eleição de 2005 quanto em 2013. Ele defende posições moderadas e já afirmou: “O Papa tem que ser alguém com capacidade de diálogo, sensato, conhecedor da realidade da Igreja no mundo todo.” (Entrevista à Folha de S. Paulo, 2013)
  • Dom Raymundo Damasceno Assis, cardeal emérito de Aparecida, também esteve presente nos principais conclaves recentes.

Atualmente, o Brasil conta com três cardeais votantes aptos: Odilo Scherer, Leonardo Ulrich Steiner (Manaus) e Sérgio da Rocha (Salvador).

Como se preparam os cardeais para o Conclave?

O período entre a vacância e o novo Papa é chamado Sede Vacante. Durante essas semanas, os cardeais se reúnem para reflexões, missas e conversas informais, as chamadas congregações gerais. É nesse contexto que nomes surgem, alianças se formam e prioridades pastorais são debatidas.

Antes do confinamento oficial, especialistas analisam “grupos” dentro do Colégio Cardinalício:

  • Curiais (ligados à Cúria Romana, órgãos de governo central)
  • Pastorais (atuantes em dioceses pelo mundo)
  • Reformistas e Tradicionalistas

Essas tendências influenciam a escolha do pontífice, seja para continuidade, abertura a reformas ou respostas a desafios regionais.

O impacto do Conclave na política, cultura e sociedade

A eleição papal ultrapassa o universo religioso. Ela ecoa em decisões sobre imigração, meio ambiente, justiça social e economia global.

A escolha de Jorge Mario Bergoglio em 2013, o Papa Francisco, ilustra bem essa dimensão:

“Os cardeais foram buscar o novo Papa quase ‘no fim do mundo’, mas ele veio com a missão clara de aproximar a Igreja dos mais pobres e reformar estruturas internas.” (Andrea Tornielli, diretor editorial do Dicastério para a Comunicação do Vaticano, em Entrevista à Rádio Vaticano, 2020)

Previsões e cenário para o Conclave de 2025

A saúde frágil de Francisco e sua própria declaração de que “a porta da renúncia está aberta” acende o debate sobre sua sucessão. Analistas apontam que, caso o evento ocorra em 2025, o atual Colégio Cardinalício é o mais diverso da história: mais de 50% dos eleitores vêm da África, Ásia e Américas.

Entre os favoritos internacionais estão:

  • Luis Antonio Tagle (Filipinas): atento a questões dos migrantes e voz importante na Ásia.
  • Peter Turkson (Gana): defensor do desenvolvimento sustentável e diálogo inter-religioso.
  • Matteo Zuppi (Itália): presidente dos bispos italianos, conhecido pelo ativismo social.

Entre os brasileiros, Dom Odilo Scherer permanece no radar internacional, consolidando seu nome pelo equilíbrio entre tradição e modernidade.

A expectativa para o próximo Conclave também envolve temas críticos: maior protagonismo feminino, firmeza frente a crises de abuso, transparência administrativa e a capacidade de engajar jovens em meio a um cenário de secularização crescente.

O Conclave é, ao mesmo tempo, o ápice da tradição e o começo de uma nova era para a Igreja Católica. Mais do que um simples evento eleitoral, é um ritual que une passado, presente e futuro, reunindo segredos, gestos simbólicos e disputas invisíveis que moldam os rumos da fé e da política mundial.
Enquanto a fumaça branca não sobe novamente, resta ao mundo — e especialmente ao Brasil — observar, debater e esperar por um momento que, mais uma vez, poderá surpreender a humanidade